domingo, 21 de setembro de 2014

Receptáculo

Introdução
    O presente trabalho refere-se ao receptáculo, um local construído a partir da percepção e compreensão do espaço utilizando o próprio corpo como referência. É uma possibilidade de o observador experimentar o espaço segundo as perspectivas da visão, orientação e olfativo-gustativo.  
     O processo de hipertrofia das capacidades sensoriais busca intervir e reconstruir a fisiologia corporal a partir de mecanismos de simulação de situações espaciais nos colocando em estímulo.
     O objetivo deste caderno é mostrar todo o processo de modificação do local para que ele pudesse produzir sensações para o corpo. Constam aqui, imagens, desenhos técnicos, fotomontagens, textos explicativos, além de todo método de construção, para que qualquer pessoa consiga construir e viver o espaço a partir da perspectiva sensorial. 

Conceito 
  A partir das sensações percebidas durante o mapeamento realizado no bairro Bom Retiro em Ipatinga – MG e do biomecanismo (prótese sensorial), construímos um receptáculo, elaborado através da percepção espacial do corpo humano. Para que ele pudesse ser erguido, estudamos os sistemas sensoriais e suas relações com o espaço construído, utilizando o corpo como referência. 
     Através da percepção e compreensão do espaço e da tabela utilizada também no biomecanismo, que nos aponta hipertrofia da visão, orientação e olfativo-gustativo, construímos um espaço que estimula esses sentidos, dando possibilidade ao observador experimentar as sensações que tivemos no mapeamento. 
      No biomecanismo, trabalho anterior ao receptáculo, hipertrofiamos os sentidos através da sensação de fome percebida no local mapeado. Os estímulos foram feitos baseados no corpo de uma cobaia. Para realizar as hipertrofias, estudamos as sensações e formas de estimular a cobaia de acordo com os limites do corpo da mesma. Para a hipertrofia da orientação, fizemos um calçado de madeira meia lua, de forma que provocasse desequilíbrio e a obrigasse a se movimentar. Esse movimento ativava o mecanismo localizado em uma máscara, presa ao rosto da cobaia, que liberava uma essência de tutti-frutti, cheiro de chiclete, que provocava a sensação de fome na cobaia. Para a visão, fizemos um capacete com retrovisores, para expandir a visão da pessoa. A partir do biomecanismo, que foi a criação de uma prótese para uma única pessoa, criamos um espaço para varias pessoas.  Um espaço capaz de estimular os sentidos através de artifícios sensoriais. Para que fosse criado esse espaço, precisamos analisar os conhecimentos adquiridos durante a confecção do bio, quando passamos a entender a relação do corpo com o espaço a nossa volta, e de métodos para hipertrofiar os sentidos de diversas formas.
     Para hipertrofiar a orientação, construímos uma rampa de cinco metros de extensão, com uma inclinação de trinta centímetros. A experiência de percorrer a rampa é a readequação do equilíbrio corporal a partir das diferentes posições que o corpo assume em relação ao eixo de gravidade durante o percurso. Além da rampa, nas paredes laterais foram utilizados tecidos brancos de cinco metros de largura cada, com a parte inferior fixada nas laterais da rampa com pregos e a parte superior amarrada com arames em bambus na vertical, posicionadas em formato de seta para baixo, orientando o caminho a ser seguido. Havia uma fusão das paredes com a rampa, que também era branca, para hipertrofiar a orientação. Nos espaços vazios entre os tecidos e as paredes laterais, foi colocados pedaços de bambus. A intenção era impedir que as pessoas passassem por esses espaços, e como o formato dos tecidos é uma seta, indica o caminho correto e seguro e obriga o individuo a percorrer pela rampa, estimulando a orientação. Esses estímulos inserem o corpo em meio de imersão, causado pelo conjunto das interferências sensoriais. 
     Para hipertrofiar a visão, fizemos um teto coberto com papel celofane, metade rosa e metade azul. A intenção era que quando a luz, do sol ou da lâmpada que fica em cima do lote, incidisse sobre o papel, o mesmo refletisse as cores nos tecidos brancos e na rampa que também foi pintada de branco. Para chegar a esta ideia, usamos como referencia a casa noturna Roxe em Belo Horizonte, as paredes brancas e as luzes sendo refletidas, estimulando a visão, mas como não podíamos anexar lâmpadas, contamos com o bom tempo para uma melhor incisão de luz do sol e da lâmpada do lote, que deu um efeito colorido mais forte à noite. Além da Roxe, nos inspiramos no ‘Cinco Sentidos Lounge Bar’ em Girona na Espanha, local capaz de gerar diferentes percepções.
     Para hipertrofiar o olfativo-gustativo, utilizamos uma essência de maracujá misturada com base para perfume, para fixar melhor o cheiro. Como a sensação para o biomecanismo foi a fome, escolhemos um cheiro de fruta para hipertrofiar, sendo que o maracujá é uma fruta usada para aliviar dores de cabeça, que era um sintoma que tentamos evitar que as pessoas tivessem, pois poderia atrofiar. 
     O lote recebido tinha cinco metros de comprimento por um e setenta e seis de largura. Em uma lateral tínhamos uma parede e na outra o guarda corpo da rampa do lote vizinho. Para fixar o receptáculo usamos bambus encontrados no bosque. Na lateral que tinha a parede, colocamos arames nas janelas e amarramos um bambu na horizontal, onde foi fixado um dos tecidos. Na outra lateral, aproveitamos o guarda corpo para fixarmos quatro bambus na vertical, presos por arames, e colocamos o tecido. A incidência de sol no lote é bem pequena, e para utilizar a luz, usamos o papel celofane para refleti-la. Já o vento é muito forte e constante, o barulho que o celofane fazia hipertrofiava a audição, mas não constava em nossa tabela de hipertrofias do trabalho anterior, por isso não o informamos no conceito anexado ao receptáculo. 
     A relação entre os dois trabalhos realizados, é a percepção e compreensão do espaço utilizando o corpo como referência, explorando as várias possibilidades de estímulos sensoriais. Através do primeiro trabalho, das tentativas de criar um exoesqueleto que despertasse sensações idênticas às sentidas durante o mapeamento, nos fez ter mais referências para a elaboração do segundo projeto. 



Hipertrofiar

Visão: Foi usado  um teto feito com papel celofane azul e rosa, cores quentes para estimular a visão. Nas paredes, foi colocado dois tecidos brancos para refletir a cor do teto. Os tecidos se unem a rampa, de forma que indique o caminho a ser seguido.

Orientação: Foi colocado uma rampa, pintada de branco para refletir a cor do teto, os tecidos unidos à rampa também auxiliam na orientação, ao indicar o caminho mais seguro para passar, visto que nas laterais foi coberto com pedaços de bambu e madeira para evitar que as pessoas passassem por la, orientando para um único caminho.

Olfativo-gustativo: Foi colocado uma essência de maracujá. O cheiro foi escolhido por ser uma fruta e por nossa sensação do mapeamento ser a fome. 



quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Manifestobsessão - Intervenção Urbana

Ditadura digital: Redes sociais e a influência na vida dos adolescentes

     A adolescência é a fase em que o que as pessoas pensam e dizem tem grande peso, e o uso das redes sociais, cada vez mais frequentes, vem fazendo com que os mesmos a utilizem como meio para se exibirem e se tornarem conhecidos em um grupo ou local. E essa busca por reconhecimento trás várias consequências na vida dos mesmos.
     Todo colégio possui um grupo ou uma pessoa que se destaca entre as outras, seja pela simpatia ou pela beleza, elas são conhecidas como populares. Passam o tempo juntos, seguem-se em redes sociais e marcam encontros. Normalmente os outros da escola fazem de tudo para participarem do grupo, mas nem sempre são aceitos. Essa popularidade hoje é determinada pelo número de seguidores nas redes sociais e pela quantidade de curtidas que cada foto postada recebe. Alguns conseguem obter mais de duzentas curtidas com menos de dez minutos de postagem. Fazem caras e bocas, fotografam-se em locais onde viajam ou passeiam e alguns exibem roupas de marca, mesmo não tendo condições.
     Os populares, que hoje receberam o título de famosinhos, são sempre convidados para festas e eventos e todos os presentes querem fotografar com eles, para assim receberem ainda mais curtidas. Em consequência disso, os demais adolescentes, que não recebem muitas curtidas, são excluídos dos grupos, não são convidados para festas e alguns ainda sofrem com o bullying (Amedrontar, intimidar), pois por não receberem curtidas, são ignorados e passam a se considerarem inferiores. Essa troca de curtidas ganhou um documentário nos Estados Unidos, o Generation Like, que diz ‘você é o que você curte’.
     Alguns requisitos são necessários para que eles mantenham o status, como por exemplo, ter mais de trezentas curtidas nas fotos postadas, participar dos encontros, ter um aparelho celular de última geração, tirar fotos em frente a espelhos e usar roupas de marca, preferencialmente. Nem todos possuem condições de manter esse padrão. Devido à idade, a maioria não trabalha, e precisam dos pais para fazer as compras. Alguns vendem as roupas e compram outras novas, para não repeti-las nas fotos.
     Após postarem a foto, aguardam a resposta dos seguidores, caso seja negativa e o número de curtidas não satisfaça, a imagem é excluída. Isso faz com que eles percam a autoconfiança e passam a ficar insatisfeitos consigo mesmo. Essa ditadura causa a dependência do uso de redes sociais, exclusão dos considerados não populares, além da tendência a suicídio. Cabe aos pais fiscalizarem o comportamento de seus filhos, para que consequências piores venham a prejudicar.

Introdução

A ditadura escolhida foi a digital, dando ênfase nos efeitos dela na vida dos adolescentes. Para representar essas consequências, usamos o que acontece na região que envolve todos os adolescentes: a ditadura das curtidas, ou seja, se o adolescente não recebe curtidas, é excluído do meio. Para demonstrar essa divisão, estudamos perfis de alguns deles considerados famosos de Ipatinga, para entender qual motivo os levam a postarem tantas fotos e qual a importância disso na vida deles. O que não foi muita surpresa as respostas, é simplesmente questão de autoestima e autoconfiança, que aumentam ao serem reconhecidos. Uma pessoa popular não pode estar junto com um não popular, segundo eles, e isso consequentemente causa a exclusão, ditando que ou você tem muitas curtidas e seguidores e sempre será convidado para tudo, ou você não é conhecido. Nossa proposta é mostrar essa divisão e as consequências da mesma.

Proposta de intervenção

A proposta foi criar uma estrutura que representasse a divisão que as redes sociais causam nos adolescentes. Criando dois lados divididos por uma parede, que representa os seguidores e as curtidas, com um olho mágico no meio, que representa a lente de uma câmera, usada para as fotos, o lado considerado inferior observando os populares, que é a intenção dos mesmos em chamar a atenção dos outros para si, e por não ter como olhar por um dos lados do olho mágico, representa os populares que não olham o lado dos outros, neste caso, não é possível ver, pois a imagem fica embasada, mas o que acontece online é que eles não fazem essa observação, por que para ser popular deve-se andar com pessoas do mesmo status, segundo a ditadura dos mesmos.

Objetivos

O objetivo da proposta é mostrar as consequências da divisão que a ditadura digital provoca nos adolescentes. Realçando os dois lados de pessoas que estão na mesma faixa etária, mas que se diferem em relação a status.  

A escolha do local

O local definido foi o Parque Ipanema em Ipatinga – MG, pois é onde os adolescentes considerados populares das redes sociais se encontram para tirar fotos, conversarem, ganhar seguidores e pedir curtidas para suas fotos. Eles também se encontram no Shopping do Vale, também em Ipatinga, mas por ser um local com mais burocracia para realizarmos a intervenção, definimos o Parque Ipanema. Os adolescentes normalmente se encontram no período da tarde estendendo ate o anoitecer. Como eles se aglomeram em um local, fica mais fácil chamar a atenção dos mesmos para a intervenção. Escolhemos um local onde havia maior aglomeração de pessoas, próximo ao Playground, um local de fácil acesso, com maior rotatividade e onde o fluxo de pessoas estava maior. O dia escolhido foi o  domingo, pois é o dia em que eles se reúnem no local. A intervenção foi realizada dia 31/08/2014, a partir das 15:30 até o inicio da noite, quando a maioria dos adolescentes ja iam para casa.

Intervenção manifesto

Para a intervenção, montamos uma estrutura em formato de T, para representar a divisão causada pelas redes sociais. Ela foi coberta com uma lona amarela, a cor forte chamaria mais atenção das pessoas que passassem pelo local, e a lona foi escolhida pelo material ser mais difícil de rasgar do que TNT, que era nossa segunda opção. A estrutura era um mostruário de torneiras em forma de L, e anexamos outra madeira de tamanho proporcional para fazer o formato de T. Na parede do meio, colocamos um olho mágico, de forma que de um lado você consegue ver o outro, mas do outro lado não consegue ter a mesma visualização, por que fica embaçado.