Introdução
O presente trabalho refere-se ao receptáculo, um local construído a partir da percepção e compreensão do espaço utilizando o próprio corpo como referência. É uma possibilidade de o observador experimentar o espaço segundo as perspectivas da visão, orientação e olfativo-gustativo.
O processo de hipertrofia das capacidades sensoriais busca intervir e reconstruir a fisiologia corporal a partir de mecanismos de simulação de situações espaciais nos colocando em estímulo.
O objetivo deste caderno é mostrar todo o processo de modificação do local para que ele pudesse produzir sensações para o corpo. Constam aqui, imagens, desenhos técnicos, fotomontagens, textos explicativos, além de todo método de construção, para que qualquer pessoa consiga construir e viver o espaço a partir da perspectiva sensorial.
Conceito
A partir das sensações percebidas durante o mapeamento realizado no bairro Bom Retiro em Ipatinga – MG e do biomecanismo (prótese sensorial), construímos um receptáculo, elaborado através da percepção espacial do corpo humano. Para que ele pudesse ser erguido, estudamos os sistemas sensoriais e suas relações com o espaço construído, utilizando o corpo como referência.
Através da percepção e compreensão do espaço e da tabela utilizada também no biomecanismo, que nos aponta hipertrofia da visão, orientação e olfativo-gustativo, construímos um espaço que estimula esses sentidos, dando possibilidade ao observador experimentar as sensações que tivemos no mapeamento.
No biomecanismo, trabalho anterior ao receptáculo, hipertrofiamos os sentidos através da sensação de fome percebida no local mapeado. Os estímulos foram feitos baseados no corpo de uma cobaia. Para realizar as hipertrofias, estudamos as sensações e formas de estimular a cobaia de acordo com os limites do corpo da mesma. Para a hipertrofia da orientação, fizemos um calçado de madeira meia lua, de forma que provocasse desequilíbrio e a obrigasse a se movimentar. Esse movimento ativava o mecanismo localizado em uma máscara, presa ao rosto da cobaia, que liberava uma essência de tutti-frutti, cheiro de chiclete, que provocava a sensação de fome na cobaia. Para a visão, fizemos um capacete com retrovisores, para expandir a visão da pessoa. A partir do biomecanismo, que foi a criação de uma prótese para uma única pessoa, criamos um espaço para varias pessoas. Um espaço capaz de estimular os sentidos através de artifícios sensoriais. Para que fosse criado esse espaço, precisamos analisar os conhecimentos adquiridos durante a confecção do bio, quando passamos a entender a relação do corpo com o espaço a nossa volta, e de métodos para hipertrofiar os sentidos de diversas formas.
Para hipertrofiar a orientação, construímos uma rampa de cinco metros de extensão, com uma inclinação de trinta centímetros. A experiência de percorrer a rampa é a readequação do equilíbrio corporal a partir das diferentes posições que o corpo assume em relação ao eixo de gravidade durante o percurso. Além da rampa, nas paredes laterais foram utilizados tecidos brancos de cinco metros de largura cada, com a parte inferior fixada nas laterais da rampa com pregos e a parte superior amarrada com arames em bambus na vertical, posicionadas em formato de seta para baixo, orientando o caminho a ser seguido. Havia uma fusão das paredes com a rampa, que também era branca, para hipertrofiar a orientação. Nos espaços vazios entre os tecidos e as paredes laterais, foi colocados pedaços de bambus. A intenção era impedir que as pessoas passassem por esses espaços, e como o formato dos tecidos é uma seta, indica o caminho correto e seguro e obriga o individuo a percorrer pela rampa, estimulando a orientação. Esses estímulos inserem o corpo em meio de imersão, causado pelo conjunto das interferências sensoriais.
Para hipertrofiar a visão, fizemos um teto coberto com papel celofane, metade rosa e metade azul. A intenção era que quando a luz, do sol ou da lâmpada que fica em cima do lote, incidisse sobre o papel, o mesmo refletisse as cores nos tecidos brancos e na rampa que também foi pintada de branco. Para chegar a esta ideia, usamos como referencia a casa noturna Roxe em Belo Horizonte, as paredes brancas e as luzes sendo refletidas, estimulando a visão, mas como não podíamos anexar lâmpadas, contamos com o bom tempo para uma melhor incisão de luz do sol e da lâmpada do lote, que deu um efeito colorido mais forte à noite. Além da Roxe, nos inspiramos no ‘Cinco Sentidos Lounge Bar’ em Girona na Espanha, local capaz de gerar diferentes percepções.
Para hipertrofiar o olfativo-gustativo, utilizamos uma essência de maracujá misturada com base para perfume, para fixar melhor o cheiro. Como a sensação para o biomecanismo foi a fome, escolhemos um cheiro de fruta para hipertrofiar, sendo que o maracujá é uma fruta usada para aliviar dores de cabeça, que era um sintoma que tentamos evitar que as pessoas tivessem, pois poderia atrofiar.
O lote recebido tinha cinco metros de comprimento por um e setenta e seis de largura. Em uma lateral tínhamos uma parede e na outra o guarda corpo da rampa do lote vizinho. Para fixar o receptáculo usamos bambus encontrados no bosque. Na lateral que tinha a parede, colocamos arames nas janelas e amarramos um bambu na horizontal, onde foi fixado um dos tecidos. Na outra lateral, aproveitamos o guarda corpo para fixarmos quatro bambus na vertical, presos por arames, e colocamos o tecido. A incidência de sol no lote é bem pequena, e para utilizar a luz, usamos o papel celofane para refleti-la. Já o vento é muito forte e constante, o barulho que o celofane fazia hipertrofiava a audição, mas não constava em nossa tabela de hipertrofias do trabalho anterior, por isso não o informamos no conceito anexado ao receptáculo.
A relação entre os dois trabalhos realizados, é a percepção e compreensão do espaço utilizando o corpo como referência, explorando as várias possibilidades de estímulos sensoriais. Através do primeiro trabalho, das tentativas de criar um exoesqueleto que despertasse sensações idênticas às sentidas durante o mapeamento, nos fez ter mais referências para a elaboração do segundo projeto.
Hipertrofiar
Visão: Foi usado um teto feito com papel celofane azul e rosa, cores quentes para estimular a visão. Nas paredes, foi colocado dois tecidos brancos para refletir a cor do teto. Os tecidos se unem a rampa, de forma que indique o caminho a ser seguido.
Orientação: Foi colocado uma rampa, pintada de branco para refletir a cor do teto, os tecidos unidos à rampa também auxiliam na orientação, ao indicar o caminho mais seguro para passar, visto que nas laterais foi coberto com pedaços de bambu e madeira para evitar que as pessoas passassem por la, orientando para um único caminho.
Olfativo-gustativo: Foi colocado uma essência de maracujá. O cheiro foi escolhido por ser uma fruta e por nossa sensação do mapeamento ser a fome.